- Isabela Cristina
Penteados afro como estética de resistência
Isabela Cristina - 24 de Novembro de 2021

Ao se realizar um panorama da nossa sociedade e sua construção, observa-se que alguns fatos são evidentes, como a marginalização dos cabelos crespos. Quando se pensa o motivo de tal afastamento por muitos, entramos na questão do racismo e suas consequências ao longo de nossa constituição social.
Muito da percepção racista sobre os cabelos crespos decorre de anos de escravidão e de uma imposição eugenista, que considera o cabelo liso perfeito e aceitável. Essa visão está diretamente ligada à tese do branqueamento do racial, muito forte no Brasil entre os anos de 1889 e 1914, tendo como um de seus pilares a negação dos atributos físicos pretos como pele, cabelo e traços faciais.
As tradições culturais, tradicionais e estéticas da população preta foram inferiorizadas e o discurso de boa aparência e superioridade dos homens brancos foi acentuado. Assim, a noção entre boa aparência foi sendo baseada nos ideais brancos, passando o cabelo crespo a ser denominado como ruim, duro, feio, difícil de ser manuseado, necessitando de intervenções para ser melhorado.
A aquisição de padrões impostos pela sociedade se torna um meio para um pertencimento social e para maior aceitação desses indivíduos. Cultura e questões identitárias são deixadas de lado para que o indivíduo possa tentar conviver sem atos preconceituosos em seu meio social.
Em contraponto, crescem e se afirmam os movimentos que negam toda essa imposição racista e buscam a valorização da pluralidade dos indivíduos. Conquistando cada vez mais espaço nos veículos de mídia e nas campanhas publicitárias, os cabelos crespos se tornam, além de uma forma de resistência, atos de valorização e divulgação da cultura preta. O crescente movimento de afirmação do cabelo crespo, por meio da educação, literatura, arte ou internet, rompe com os padrões eugenistas antes estabelecidos e proporcionam a valorização da identidade e da cultura negra.
Um dos primeiros a apontarem para um movimento de valorização, o Movimento Negro resgatou a estética preta principalmente através do cabelo crespo. Nos dias atuais esse movimento tem continuidade através do ciberativismo, tendo as redes sociais como suporte e fonte de valorização dos elementos raciais/culturais dos afro-brasileiros.
Como exemplo dessa valorização, podemos listar:

A afrohairstylist e empreendedora Jacy Carvalho, que possui o projeto fotográfico Escultura Crespa, ao lado de seu marido Lucas Torres. Ela produz imagens que tem como objetivo exaltar e valorizar a estética e a autoestima da comunidade preta, com foco na valorização do cabelo crespo. https://www.instagram.com/jacycarvalho/

O Crowns Project, que busca o registro e valorização da beleza e das múltiplas possibilidades do cabelo crespo por meio de uma estética artística e descontraída. https://www.instagram.com/crownsproject/

Janice Mascarenhas é uma multi-artista que se destaca pelo trabalho artístico com tranças e cabelos afro, utilizando-os como suporte para narrar a ancestralidade preta. Ganhadora do prêmio da revista inglesa Dazed, Janice busca através da arte, moda e beleza ser suporte para uma narrativa descolonial. https://www.instagram.com/janicemascarenhass/
Dessa forma, projetos e imagens que valorizem e deem visibilidade a grupos antes marginalizados ajudam a potencializar o movimento de resistência e pertencimento da população preta, além do combate a padrões e ao eugenismo aqui antes estabelecido. Assim os cabelos crespos podem ser vistos como ato de força e afirmação identitária.
